17.2.12

Dois meses de cicloturismo na Europa

O ponto de partida foi Montpellier. Cidade do sul da França, onde eu e Elisa nos conhecemos e moramos por três anos. A viagem se fez em pleno verão, não por escolha. Decidimos que sairíamos logo após o fim do meu doutorado. Mas devido aquele atraso habitual, não foi possível aproveitar a primavera, que é a melhor estação para se viajar na Europa.

O destino era Padova, no nordeste da Itália, casa dos pais da Elisa. Temendo as altíssimas temperaturas do verão, optamos por fazer a maior parte do percurso em altitude. Havíamos previsto passar pelo Massivo Central, região montanhosa e desabitada no centro da França, e depois entrar no Alpes, que nos levariam até o nordeste da Itália. Isso foi feito, mas nós acabamos avançando mais rápido do que o previsto e esticamos a viagem até a Croácia, passando pela Eslovênia e ainda um pedacinho da Áustria.

O preparo para essa nossa primeira viagem não foi nada ortodoxo. Um mês antes, a Elisa machucou um joelho enquanto escalava e torçeu um tornozelo fazendo uma trilha. O médico recomendou repouso total durante um mês. Eu estava ocupado com a defesa da minha tese e também acabei fazendo um mês de repouso, ao menos fisico. Além disso, resolvi ir finalmente ao médico para ver um probleminha que eu tinha no joelho há tempos. Descobri um ligamento rompido entre tantas outras nhacas. Tudo isso, juntado ao calor infernal que fazia, não correspondia exatamente as condiçoes ótimas. Mas nós estavamos tão decididos a viajar que elaboramos até um plano B, que seria Montpellier-Padova à remo. No entanto, o plano A deu certo. Os joelho melhoravam a cada dia de pedalada e após três semanas, a Elisa até pôde pedalar sem a tornozeleira.

A partida

Era 28 de julho. Luciano e Joselyn, dois amigos chilenos, dormiram em nossa casa antes de continuar sua viagem de bicicleta. Assim, nós deveríamos partir todos mais ou menos juntos. Porém, eu precisava dar umas apertadinhas na bicicleta e acabamos saindo separados. Bicicleta carregada, eu dou as três primeira pedaladas e provoco o maior acidente mecânico da nossa viagem. Porque eu não apertei alguns parafusos, o porta-bagagens traseiro girou no eixo e foi de encontro ao câmbio. Isto me incomodou muito. Parecia um anúncio daqueles dias em que tudo dá errado. Sabiamente, optamos por partir no dia seguinte, para não começar mal a viagem.

Nos primeiros dias, fizemos etapas bem curtas, entre 30 e 50km, para nos adaptar fisicamente. Além disso, ainda estavamos em baixa altitude e havia muito calor. Acho que o que nos ajudou muito foi a boa alimentação a base de grãos germinados. Fizemos germinar lentilha, trigo, grão-de-bico, etc. durante a viagem. Deixa-se de molho durante a noite e depois coloca-se em um saquinho de linho cuidando para manter a humidade.

Toda a região de Montpellier até o começo do Massivo Central nos era bem familiar. Nos sentíamos ainda em casa até fazer o primeiro passo do massivo central.

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